Chef Ivo Faria

ONTEM

BH nasceu planejada. A nova capital de Minas, que na primeira metade do século XX cresceu e se desenvolveu num ritmo ainda lento, como quase o restante do país, após a 2ª Guerra experimentou um crescimento acelerado, tornando-se um dos maiores pólos industriais do país e centro administrativo das maiores mineradoras e siderúrgicas brasileiras.
A maioria dessas indústrias e sedes das mineradoras estava sediada na região metropolitana, ainda dependente dos serviços” da capital. Mas com o crescimento e desenvolvimento da região como um todo, as cidades do entorno da capital rapidamente ganharam vida própria, desenvolvendo outras atividades econômicas, notadamente a de serviços, e com isso tornaram-se menos “dependentes” de BH.
Nas décadas de 1990 e de 2000 Belo Horizonte começa a perder as grandes sedes de indústrias e construtoras para São Paulo ou até mesmo para cidades da região metropolitana, cada dia melhor servidas por hotéis, restaurantes e comércio em geral. Com isso, a capital rapidamente foi perdendo seu potencial de cidade de grandes negócios.
A “pá de cal” no esvaziamento de BH ocorreu com o fechamento do aeroporto da Pampulha e a transferência do centro administrativo do Governo Estadual para a região Norte, quase divisa com Vespasiano, distante do centro pulsante da cidade. O centro comercial de BH rapidamente perdeu 16 mil funcionários públicos que consumiam e viviam no centro e zona sul da capital – bairros que fomentavam empregos, serviços e rendas.
Ao longo de décadas nada se fez – ou muito pouco foi pensado – no sentido de criar uma política pública com vistas a repor a grande perda que a cidade vinha experimentando, principalmente nesta última década.
Bons tempos
Belo Horizonte foi uma cidade conhecida pela fartura de bons restaurantes, principalmente no centro e na zona Sul, como o Alpino, o Hotel Del Rey com seu chef francês, o Normandie, o Automóvel Clube, o Pier 45, Grill, Café Ideal, Esplêndido, Chez Bastião, Chico Mineiro, Minas II, Bruno, dona Derna, Nacional Club, mala e Cuia, vitelo’s, Chez François, Estalagem, Tip Top, Dona Lucinha, Yun Ton, Santa Felicidade, Minuano, Trianon, Xapuri, etc. Restaurante de alto nível, que viviam lotados de empresários que circulavam na capital movimentando a economia da cidade. A maioria desses restaurantes já fecharam suas portas ou sobrevivem a duras penas.

HOJE

A falta de visão e interesse político das sucessivas administrações municipais deixou de criar uma nova vocação para a capital mineira. Sem circulação de “turismo de negócios” nem atrativos suficientes para atrair turistas, além do não funcionamento do aeroporto da Pampulha, Belo Horizonte experimenta um verdadeiro apagão. Deixou de ser a terceira capital brasileira em população, PIB, desenvolvimento e outros parâmetros econômicos e sociais para tornar-se a sexta do país.
Alguns bons restaurantes hoje abrem somente à noite por absoluta falta de clientes. A capital tem atualmente menos de 10 restaurantes à la carte funcionando para almoço, mesmo assim com reduzido público, ao contrário do passado.
A cidade estagnou
Minas Gerais não parou. O Estado continua crescendo e se desenvolvendo, a despeito de uma razoável estagnação de sua capital. O aeroporto de Confins e o Centro Administrativo do Estado fomentam, cada vez mais, o desenvolvimento de várias cidades de seus entornos, como Lagoa Santa, Confins, Vespasiano e Pedro Leopoldo. Mas BH continua sem nenhuma luz no fim do túnel. Hotéis, restaurantes, lojas e até botequins – na capital dos bares! – experimentam o sabor da decadência. Parece até que o escambo está de volta com pequenos comerciantes – a padaria de bairro, o açougue, o mercadinho, a lojinha - sem perspectivas de crescimento. O desenvolvimento não passa por aqui.

O AMANHÃ

Várias cidades do mundo buscaram grandes negócios na prestação de serviços, se inovaram, criaram e se deram muito bem. Mesmo no Brasil podemos citar várias, como Fortaleza, hoje detentora do melhor centro de convenções da América do Sul, com capacidade para cinco mil pessoas; Brasília, que também deixou de ser meramente um centro político-administrativo para ganhar vôo próprio, com atividades econômicas que dão vida à capital brasileira; cidades do interior de São Paulo, como Atibaia, Ribeirão Preto, Campos do Jordão, Campinas, São José dos Campos, e demais do Vale do Paraíba, que tornaram-se pólos regionais, com centros de convenção e prestadoras de serviços de excelência.
Passado de glórias
Estes exemplos, comprovadamente vitoriosos, deveriam servir para Belo Horizonte; para favorecer e atrair grandes investimentos nossa cidade carece de infra-estrutura aeroportuária, neste caso reativando o aeroporto da Pampulha para atender o público de todo o país que vê em Minas um Estado de grandes oportunidades, com um rico acervo barroco nas cidades históricas, um potencial crescente na agro-indústria e na pecuária, na maior produção de café do país e detentor da mais aplaudida e cultuada cultura gastronômica brasileira. Mas que também precisa enxergar Belo Horizonte como uma capital de excelentes oportunidades.
A capital precisa discutir suas tendências de prestação de serviços e outras opções criativas que fomentem emprego e renda e recuperem o vigor de BH. A capital mineira não pode continuar vivendo de seu passado de glórias.
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